Há 3 anos, para quem se lembra, havia dois grandes partidos políticos em Portugal. O Partido Liberal e o Movimento dos Cidadãos. Estavam sediados nos três Condados e estavam constantemente a lutar por poder, no bom sentido claro. Era uma luta saudável, por um motivo muito específico: Eles consideravam que a única forma de chegarem ao poder e manterem-se lá era fazendo um bom trabalho. Havia uma forte competição para tentar "conquistar" Casas do Povo, havia uma forte dedicação na procura e na instrução de militantes. Havia uma enorme entreajuda entre as pessoas e quem ia para o poder estava bem preparado pelos seus "compadres". Era sempre quase certo haver, no mínimo, 2 candidatos a Prefeito. Haviam verdadeiras disputas, verdadeiros debates, verdadeiras trocas de ideias, verdadeira política.
Pouco tempo depois, os partidos foram perdendo força. Surgiu um novo movimento anti-partidos que vinha impor a nova "moda", a moda dos independentes. Era uma coisa linda na altura. Os poucos partidos que ainda existiam, ficaram completamente extintos, eram vistos como se fossem o diabo em pessoa. Aí começaram os problemas. Não havendo uma estrutura efectiva e organizada, as listas e os candidatos passaram a ser escolhidos consoante as amizades. Perdeu-se aquela filosofia de trabalhar bem como forma de chegar ao poder, as eleições passaram a ser feitas por afinidades. Aos poucos os debates foram deixando de existir, já não interessavam, apenas o nome dos candidatos passou a ser critério. Aos poucos, pouco interessava saber o que os candidatos pensavam ou quais as propostas que tinham. Aos poucos, tudo passou a resumir-se ao "ter um amigo no poder". Aos poucos, e na ausência de partidos, as pessoas começaram a agarrar-se ao que havia neste Reino de mais semelhante: as famílias.
Não posso dizer com toda a franqueza que hoje em dia a disputa pelo poder é feita exclusivamente por famílias - não é -, mas para lá caminhamos. No entanto, e enquanto não há estruturas familiares do nosso Reino suficientemente desenvolvidas para se permitir tal coisa, vai-se agarrando nos amigos e pegando no rótulo "independentes" para disfarçar. Mas posso dizer, com total confiança, que cada vez mais se usam os apelidos familiares como forma de distinção da "cor política".
No meu caso específico, posso dizer que se há coisa que eu não sou, é eleito por afinidades. Eu, que estou na lista negra de meio Reino e na lista de pessoas indesejáveis de meio Mundo. Vá, meio Mundo não... hihihi Eu tenho uma particularidade que me torna diferente dos outros. Sou mauzão em público (quando me dirijo a pessoas com quem me dou menos bem) e guardo o bonzinho para o privado (onde 99% das coisas acontecem). Portanto, aquilo que quem não me conhece vê, e já tiveram grandes surpresas quando me conheceram pessoalmente, é um Nortadas arrogante, muito pouco cortês e nada simpático. E tudo isso me concede a credibilidade suficiente para afirmar com toda a convicção que as pessoas não votam em mim por eu ser simpático, ter um sorriso bonito, ou fazer bolinhos para os mais desfavorecidos! As pessoas votam em mim pelo meu trabalho apenas. Votam em mim porque conhecem o meu trabalho e sabem com o que podem contar. Nada mais. Sou a excepção à regra das eleições por afinidades! E isso deixa muita gente furiosa, sublinhe-se. Já se perguntaram por que raio eu estou "em todo o lado", ou porque já ocupei não se quantos cargos? Há quem seja eleito para governar o Povo e há quem seja eleito para servir o Povo. E o Povo sabe perfeitamente qual é o meu lugar.
Antigamente, a preocupação era angariar novos militantes, treiná-los, prepará-los e enviá-los para as eleições. Hoje... Olhem em vosso redor. Quem se interessa pelas Casas do Povo? Fala-se dos Prefeitos como quem fala de vagabundos que não interessam a ninguém. Já não existe aquele antigo objectivo de "conquistar" mais de metade das Casas do Povo para vencer as eleições Condais. A maioria dos Prefeitos são novatos completamente inexperientes que acabam por perder interesse, não fazer nada, ou estragar. E as pessoas pura e simplesmente não se interessam. Os novos deixaram de interessar, deixaram de receber a atenção que merecem. E como o critério se baseia apenas no nome, aquilo que vemos é sempre o mesmo. Entre um tipo que já foi Prefeito milhentas vezes e um novato... Quem acham que vai ser eleito? Deixou de haver espaço para os mais novos, deixou de haver a renovação de titulares dos tachos.
E o que dizer da nossa mentoragem? Há 2 anos que se perdeu grande qualidade. Foi quando começou a moda dos clones. Fomos invadidos por esses seres imprestáveis, a desconfiança passou a ser o prato do dia. Sempre que surgia um novo recém-nascido, faziam-se apostas em sussurros em como era um clone. Começou-se a negligenciar os recém-nascidos genuínos que estavam perdidos e iam desistindo. Desde esse tempo, a mentoragem nunca mais foi a mesma. Quem já cá está há 3 anos ou mais sabe que isto é verdade. A forma como se era recebido e acompanhado era totalmente diferente do que os mais novos receberam e ainda recebem. Digam o que disserem, façam o que fizerem, as coisas nunca mais vão voltar a ser as mesmas.
Todos nós chegamos a uma altura em que olhamos para o "estado de coisas" e procuramos saber se valeu a pena todo o esforço feito para melhorar esse mesmo "estado de coisas". E, como é sabido, o "estado de coisas" do ponto de vista de quem está nos corredores do poder, nem sempre é o mesmo "estado de coisas" do ponto de vista de quem está fora a assistir. Escusado será dizer que o segundo caso é mais genuíno. Retirei-me discretamente da política, tão discretamente que ainda há quem pense que sou Conselheiro ainda. Comecei a olhar para o "estado de coisas" e foi a esta conclusão que cheguei.
Este espaço foi criado numa tentativa de reavivar o debate público, um primeiro passo no sentido de voltarmos a ter política a sério. Infelizmente ainda só passaram 2 dias, ainda é muito cedo para colher resultados. Mas já noto alguma alteração. Notei que o que eu escrevo é efectivamente acompanhado e faz alguma diferença. Há pessoas que vêm ter comigo e dizem o que pensam, se concordam, se discordam, e tentei sempre encorajá-las a tecerem os comentários aqui, de forma a que mais pessoas também possam participar. Ainda estou crente que um dia vamos começar a ter debates interessantes.
O que escrevo aqui vai agradar a uns, desagradar a outros, e informar a maioria. É a vida, meus senhores. Mas decididamente o que escrevo não deveria desagradar a ninguém, já que não deveria haver "temas incómodos". Não é normal, nem saudável, para a nossa democracia. E com isto estou, naturalmente, a referir-me à minha última publicação intitulada de "Razia nas Minas de Lisboa". Momentos após esta publicação foi instalado um alvoroço total, houve quem ficasse surpreendido com o acontecimento, houve quem ficasse indignado por eu ser de Coimbra e estar a "intrometer-me" nos assuntos de Lisboa, houve quem apelidasse este espaço de "Nortadas Leaks", houve quem me acusasse de ter olhos dentro do Conselho de Lisboa, houve quem me acusasse de estar a atacar Lisboa. Enfim, houve de tudo um pouco, e devo dizer o seguinte: Não achei isso uma atitude correcta.
Pensei que não estivesse a contar novidade nenhuma, especialmente para Lisboa. E pelos vistos, a novidade não foi só para o povinho, foi também para alguns Conselheiros, pelo que deduzo que esta situação não estava efectivamente exposta no plenário do Conselho, caindo por terra a teoria de eu ter olhos dentro do Conselho. A pessoa que pediu a análise também não é do Conselho, portanto podem ficar descansados. Não sei se sou de Coimbra, Porto ou Lisboa, sei que sou Português, e parece-me ser mais que suficiente, não? Tudo o que eu referi aqui não é informação confidencial nenhuma, está estampado nos relatórios do IOM que por sua vez estão estampados no Gabinete Público dele. Qualquer pessoa pode fazer os cálculos que eu fiz, para isso basta saber o número de mineiros e o nível das minas. Não ataquei, não insultei, não ofendi, não apontei nomes, não atribuí culpas ou responsabilidades. Limitei-me a descrever o que se passou, apontei o que correu mal e referi a alternativa correcta. Aquilo é uma análise, não é um ataque, peço que o vejam como tal. Vejam-no também como uma oportunidade de fazer juz à célebre frase "Aprende com os teus erros".
Façam uma pausa para reflectir sobre isto. O que houve de errado? O que houve de errado? Poderia ficar a perguntar isto vezes e vezes sem conta até que se apercebam do que se está a passar, mas não há grande tempo. O que houve de errado? Não vêem nada de errado no facto de vários cidadãos e até alguns Conselheiros desconhecerem algo afecto ao seu Condado que nem é recente e já veio até do Conselho anterior? O que houve de errado? Não vêem nada de errado no facto de algo que é desconhecido a muitos estar estampado nos relatórios do IOM sem que ninguém se tenha apercebido? O que houve de errado? Não vêem nada de errado no facto de, quando alguém fala nesse assunto, a primeira coisa que vos passa pela cabeça é "Como o Nortadas soube?" em vez de "Como eu não soube?"? O que houve de errado? Não acham estranho que isto esteja a acontecer no Condado que é literalmente o berço da Transparência Política em Portugal? Vejam, o problema não está no facto de ter acontecido aquilo às Minas, mas sim no facto de quase ninguém ter consciência disso. Eu acho que há uma lição a tirar desta situação, e penso que se pode aproveitar para melhorar. Mas isso está nas vossas mãos.
Sim, isto é uma crítica. Porque uma crítica é uma função de comentário sobre um determinado tema com o propósito de dar a conhecer uma perspectiva não só descritiva, mas também de avaliação. Isso é uma crítica, meus senhores. Uma crítica é um comentário, é uma opinião. Há críticas positivas, há críticas negativas, há críticas construtivas, há críticas destrutivas. Mas, o que temos assistido nos últimos tempos, é que, cada vez mais, as pessoas usam a expressão "crítica" para se referirem especificamente a "críticas destrutivas". Quantas vezes já não ouvimos "Pára de criticar e apresenta soluções" e outras frases similares? Está-se a empregar aqui, de forma errada, a expressão "crítica", quando na verdade se pretende dizer "crítica destrutiva". E assim começaram a desaparecer as chamadas críticas construtivas, porque "criticar" passou a ser muito mal visto e quase proibido. Houve um uso desmedido das críticas destrutivas que mancharam o bom nome da crítica em si. E, como se ainda não bastasse, os receptores/visados das críticas têm uma enorme dificuldade em separar as críticas ao seu trabalho das críticas à sua pessoa e é raro quando não olham para elas como se fossem a mesma coisa. A expressão "críticas construtivas positivas" passou a ser substituída pela expressão "elogios" (e deixaram de ser construtivas, passaram a ser meras palavras ocas de concordância), porque se passou a entender as críticas ao trabalho como se fossem críticas à pessoa. E o mesmo aconteceu com as críticas construtivas negativas, que passaram a ser entendidas como insultos e tratadas da mesma forma que as críticas destrutivas. Aos poucos, as críticas construtivas negativas foram deixando de existir, e hoje em dia já só se vêem críticas destrutivas.
Gostava que isto voltasse a estar no vocabulário dos Portugueses e começasse a haver uma nova massa crítica responsável:
Crítica - Comentário; Opinião.
Crítica Construtiva - Visa criticar para evoluir e divide-se em dois tipos: positiva e negativa.
Crítica (Construtiva) Positiva - Visa reforçar e elogiar o que tem sido feito.
Crítica (Construtiva) Negativa - Visa corrigir e melhorar o que tem sido feito.
Crítica Destrutiva - Visa criticar para destruir.
Esta minha crítica é a chamada Crítica Negativa.
Um político não se pode dar ao luxo de ser orgulhoso - é contra-producente. Nós, os políticos, somos avaliados, não pelos erros que cometemos, mas sim pela forma com que os corrigimos e damos a volta por cima. Um sujeito que comete um erro e, mal se apercebe dele, o corrige, tem 7x mais probabilidades de receber a simpatia do Povo do que um sujeito que comete um erro, sorri e finge que está tudo bem porque não tem certas frutas/vegetais para se chegar à frente e corrigir a porcaria que fez. Cometeram um erro? Admitam-no, peçam desculpa e corrijam-no. Pode custar muito, pode até parecer que vos vai cair o mundo em cima ou que vai ser bastante humilhante, mas vão ter uma surpresa agradável.
Falei ontem com o IOM de Lisboa, Platy. Não posso dizer que ele me tenha agradecido por ter escrito o que escrevi. Pelos vistos tornou-se agora o centro das atenções, para o bem e para o mal. Nada pelo qual ele alguma vez me irá agradecer, mas há alguns aspectos que tenho que referir. Ele está consciente de que podia ter reagido de outra forma face ao problema que enfrentou - é bom, a maioria dos políticos pura e simplesmente continuaria a insistir que agiu bem; demonstra maturidade política. E não me virou as costas, que é também aquilo que a maioria faria no lugar dele - novamente, positivo; demonstra tolerância sobre divergência de opiniões. E, o mais importante, já se está a trabalhar num plano de recuperação - é o que interessa. Mostrei-me solidário e disponibilizei-me para ajudar no que for preciso, dentro de uns dias estarei em Lisboa e poderei auxiliar nas mobilizações para as minas. O passado já passou. Resta-nos agora construir o presente a pensar no futuro.
Como diria uma grande senhora por quem nutro grande respeito e admiração: "Quem trabalha muito, erra muito. Quem trabalha pouco, erra pouco. Quem não trabalha, não erra, e quem não erra, é promovido".
Não sei se isto é um desabafo, uma crítica ou uma reflexão. Às tantas é tudo ao mesmo tempo. Apenas espero que sirva de alguma coisa e que algo se mude na nossa sociedade, porque isto assim não vai muito longe.
Um bem-haja.
Ja agora: Sabem que estão à vontade para comentar, certo? Se concordam, têm o direito de o dizer. Se discordam, têm o direito E o dever de o dizer. ;)